Mormarok, A Eterna Besta Nascida Do Vômito De Eurinome

Mormarok, A Eterna Besta Nascida Do Vômito De Eurinome
Beast – Christine M. Griffin

Inicio este relatório por um caminho que muitas vezes acomete aqueles que resolvem penetrar nas entranhas dos jogos mais sangrentos da Humanidade e nem sei se as heranças que deixarei para a posteridade serão conhecidas após estas minhas passagens recentes pela humana obscuridade… Humano não se pode dizer que aquela criatura que persegui seja… Humano, não.. Não posso chamar aquilo de humano… Quem encontrar este relatório algum dia, poderá saber que Abraão Silveira de Albuquerque Schërr foi um dos mais corajosos investigadores do Oculto do Brasil e, quiçá, do mundo. Não que eu esteja me vangloriando do que encontrei, pois eu perdi muito, muito mesmo, dedicando trinta e três anos de minha vida ao vislumbrar de uma realidade que o mundo esqueceu, faz de conta que não conhece ou pensa que pode ser negada. Não tenho muito tempo, a criatura está me caçando… Nem sei onde estou, mas me parece um lugar bem mais ermo aqui do já ermo Pantanal Mato-Grossensse, onde nada está a respirar perto de mim nesta noite quente… Não ouço mais nada além destas minhas nervosas mãos estremecendo o papel ao escrever este relatório… Pouco tempo tenho… Muito pouco tempo tenho… Devo relatar tudo… Antes da chegada dele… Antes da chegada da criatura…”

Correr dele!

Correr mais rápido que ele!

Mais rápido que ele, a criatura!

Mais rápido!

A criatura me alcançando…

Mais rápido!

A maldita criatura me alcançando!

Mais rápido!

Aqui, mais rápido!

Tenho que ser mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais…

Mais…

Tenho que suportar…

Tenho que sobreviver…

Tenho que correr mais rápido…

Mais rápido!

Sim, Abraão, mais rápido!

“Em 23 de março de 1976, quando eu havia acabado de ser pai da minha terceira filha e trabalhava para uma agência secreta internacional de investigadores do Oculto, a Epoptai, que já nem existe mais por causa dessa criatura que persegui esses anos todos, deparei-me com um crime pavoroso que ocorreu na cidade de Recife, em Pernambuco. A Ditadura Militar abafou o caso com todos os seus recursos repressores; mas, a minha agência, que contava com recursos doados pela CIA e pela Interpol, pôde ter acesso aos arquivos policiais confiscados pelos militares e a liderança do Epoptai no Brasil recrutou-me para investigar o caso, já que eu era à época um cientista de renome no campo da Medicina, assim como um ocultista respeitadíssimo, no mundo todo. Nove membros de uma mesma família, pais e filhos, foram devorados vivos, restando apenas pedaços de carne podre pela pequena casa de madeira; mas, algo curioso havia sido descoberto por mim a partir dos restos mortais, por assim dizer, deles: eles passaram por um processo de decomposição antes de serem devorados, um processo que se iniciou a partir de seus órgãos internos e foi se espalhando pelos externos, um processo que durou cerca de cinco segundos. A cúpula do Epoptai, sediada na Grécia, jamais encontrara um caso como o que eu passei a cuidar até aquele momento de seus mil cento e vinte e três anos de existência, pois os casos sobrenaturais com os quais lidara sempre foram do tipo Vampiros, Demônios e Fantasmas; estávamos, então, à vista de um caso excepcional, já que identifiquei, após uma análise oculta com o auxílio de minha esposa, Ana Gabriela, que era uma fenomenal Maga Branca, as três Naturezas na criatura que atacou aquela família. Não, como sabemos todos, o dito “sobrenatural” não pertence a um mundo onde tudo é natural… No mundo do Ocultismo, da Magia e do que os comuns olhos mortais não podem vasculhar ou perceber, a Natureza trata de agir com Sua Verdade Mais Plena… A criatura que identifiquei, a criatura que persegui, a criatura que agora me persegue, é tão filha da Natureza quanto eu e quanto você que encontrará a este relatório, e a todos que conhece, a todos que conheci e por causa daquela criatura perdi…”

Impossível!

Eu estou a correr e ele caminha!

Estou correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Correndo!

Mas, ele caminha, caminha e está bem próximo de mim!

Preciso correr mais rápido!

Sobrevivi a ele durante trinta e três anos, não vou cair agora!

Tenho que ser mais rápido, ele está a pelo menos vinte e cinco passos atrás de mim, caminhando!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Oh, Abraão, mais rápido, sim, mais rápido!

“O Epoptai reconheceu a raridade do caso que estava em questão e alertou a CIA e a Interpol, sendo que enviou posteriormente ao nosso país um time de trezentos e nove especialistas em assuntos ocultos; membros da organização europeus, asiáticos e africanos, que continham em seus currículos um treinamento militar rigoroso dado pelo Exército dos Estados Unidos para que estivessem prontos para enfrentarem ameaças como a da criatura que pela primeira vez assombrava a entidade secreta, cujos méritos estavam dentro dos parâmetros de defesa das pessoas comuns contra monstros como aquele. Nós criamos nosso quartel central de ações em Recife mesmo, enquanto que os demais agentes se espalharam por todo o Brasil, vasculhando cada cidade, sempre nas sombras e protegidos pelas credenciais tanto da CIA quanto da Interpol, para evitar-se problemas com os militares. Eu fui elevado ao cargo de gerenciador nacional de ações, já que meus conhecimentos em relação ao Brasil eram bastante profundos, indicando como deveriam vasculhar cada cidade a cada um dos membros; e eu próprio e a minha esposa saímos a campo em busca da criatura, que todos os ocultistas do Epoptai no Brasil observaram que ainda continuava no país. Um ano de incessantes buscas, até que, vasculhando antigos livros meus sobre Demonologia, me deparei com Eurinome, um Demônio de categoria elevada, O Príncipe Da Morte, que se alimenta de carne morta e podre. Vi alguma semelhança com o que descobri do crime ocorrido em Recife, pois a carne daquelas pessoas apodreceu e eles continuaram vivos durante o processo, o que vinha a demonstrar a extrema crueldade do Ser que aquilo efetuou. Eu mesmo me preparei ritualisticamente para evocar Eurinome durante todo o mês de abril de 1977, sem contar a ninguém, nem mesmo a Ana Gabriela… Jamais tivera contato com uma Entidade Demoníaca tão perigosa e destrutiva quanto Eurinome, que muitos demonólogos descrevem como um Ser brutalizado, bestializado, mas Senhor de um poder abissal sobre os Mistérios Da Morte Nos Nove Círculos Infernais… Ambicionei estes Mistérios… Não pensei no Epoptai… Não pensei em minha família… Sequer pensei no mundo de gente inocente que sofreria por causa da minha escolha e do ritual que realizei aos 22 de maio de 1977...”

A corrida…

Mais forte…

Muito mais forte…

Tenho que ser mais forte…

Mais…

Mais…

Mais…

E rápido…

Rápido…

Rápido…

Rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Essas gargalhadas dele não podem me afetar!

Não posso enfrentá-lo de frente!

Não posso parar de correr!

Não posso parar de correr!

Não posso!

Não posso!

Não posso!

Não posso!

Não pode não, Abraão, corra mais, muito mais!

“Se um criminoso pode ser identificado pelas suas diretas e indiretas ações, eu sou um dentre todos os criminosos do mundo… Fui adiante na minha Evocação, escondendo-me sob determinados Véus do Olhar Espiritual de minha esposa, que poderia ter me descoberto antes não fosse ela estar ocupada com os planejamentos de buscas à criatura que caçávamos. Fui eficiente na Evocação em um local desértico do sertão pernambucano, utilizando para alimentar Eurinome noventa quilos de carne de vaca apodrecida, doze vacas que eu mesmo sacrifiquei um dia antes, compradas de um fazendeiro da região. Aquele Demônio me intrigou, me atraiu, me seduziu, vorazmente devorando toda aquela carne apodrecida pela obra mágica que pus em ação… Falei com Ele… Dirigi-me a Eurinome na linguagem antiga mais correta, linguagem adormecida e morta que você nunca pode pensar em conhecer… Perguntei sobre a criatura, ele não me disse nada… Perguntei uma segunda vez e nada… Perguntei uma terceira vez e nada… Fui imperativo, ordenando-lhe que me obedecesse, e nada… Ordenei obediência uma segunda vez, e nada… Ordenei obediência uma terceira vez, e nada… Não sabia lidar com Demônios daquela categoria, mas estava bem protegido misticamente, ele não me atacaria… Eu… Esqueci.. Esqueci de tudo quando decidi lhe perguntar sobre os Mistérios, já não me interessava a criatura, o Epoptai, a minha família e o mundo… Eurinome parou de mastigar a carne podre, olhou para mim, e me respondeu que o filho nascido de Seu vômito me mostraria tais Mistérios… Perguntei-lhe qual filho, mas ele desapareceu… Ele falava da criatura? Não soube conectar as palavras Dele à criatura após aquele momento, nem liguei para o que Ele me disse, apenas me senti frustrado porque nem uma pista dos ensinamentos que eu poderia obter acerca dos Mistérios foi-me dada… Não percebi, fui tolo… Não percebi, fui idiota… Não percebi, fui imbecil… Não percebi e, por causa da minha ambição ferida, aos 25 de dezembro de 1977, o filho de Eurinome revelou-me todos os Mistérios… A criatura invadiu a minha casa em Brasília, durante a ceia de Natal, durante a tradicional festa anual que reunia a minha família e a de Ana Gabriela… Com um soco me fez perder os sentidos e quando acordei… Quando acordei… Quando acordei… Meus pais e os pais de Ana Gabriela tinham sido devorados… Meus sete irmãos e os três irmãos de Ana Gabriela foram devorados… Meus dois cunhados, duas cunhadas e as três cunhadas de Ana Gabriela, devorados… Meus quinze sobrinhos e os nove sobrinhos de Ana Gabriela, devorados… Minhas três filhas devoradas… Ana Gabriela, e a criança que ela trazia no útero há quatro meses, devorada… E a minha língua fora arrancada…”

Não posso me cansar!

Não, agora não, não posso!

Tenho que correr mais!

Correr mais!

Continuar correndo!

Correndo mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mas, ele caminha e está perto!

Minhas forças…

Minhas pernas…

Não posso pensar nisso!

Não posso ainda pensar em parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não vou parar!

Não vou parar!

Não vou parar!

Não vou parar!

Não vou parar!

Não vou parar!

Não vou parar!

Não vou parar!

Não vou parar!

Não…

Não vou…

Não vou…

Parar…

Isso, Abraão, não pare!

“Não sei como o Epoptai me encontrou, não sei como o Epoptai cuidou de mim, não sei como o Epoptai ainda quis que eu continuasse na organização, já que seus Iniciados Maiores descobriram que minha Evocação despertou a fúria da criatura, que começou a caçar e a matar pelo mundo os membros dela, junto com centenas de membros das famílias deles que possuíam poderes psíquicos avançados… Não chorei pela minha família, pelas minhas filhas, por Ana Gabriela, pela família dela, eu não tinha tempo para chorar! Sou um cientista, jamais me emocionei com coisas vazias e pequenas como essas, e eu tive que ser muito mais firme a partir daquela noite tenebrosa de Natal! Você pode me considerar mais monstruoso do que a criatura que eu caçava, mas assim sempre fui, racional, frio, lógico, e não emotivo, sensível, irracionalmente propenso a rompantes do mais barato sentimentalismo! E os Mistérios foram-me revelados naquele massacre… Mas, eu queria mais… Queria saber mais… Mais… Capturar a criatura que me conquistou existencialmente por seu tamanho Poder e outros Mistérios que ela poderia me revelar, tornou-se uma questão de honra, em nome da Medicina e das Ciências Ocultas! Dissecar w escrever livros acerca da criatura mais perigosa de todos os tempos me atraia e estimulava, eu apenas pensava nas honrarias, no Nobel, no dinheiro, na eternização da minha genialidade científica e ocultista! Pelos anos seguintes, persegui a criatura pelo mundo; tentamos fazer com que os demais Seres Noturnos nos auxiliassem, mas todos se negaram, já que o Epoptai, em seus mais de mil anos de existência, os caçou, prendeu, estudou e se livrou das espécies menos interessantes evolutivamente. Contatamos Seres Noturnos Superiores de outros Planos, outras Dimensões, do Universo Negro, mas todos Eles negaram-se a auxiliar-nos por causa do que o Epoptai fez com milhares de Seres Noturnos na Terra… Estávamos sozinhos e fomos sendo reduzidos em um período de trinta e um anos… Trinta e um anos de uma guerra secreta travada contra um predador implacável e impiedoso, que ia dizimando todo o Epoptai e familiares de membros do Epoptai com calma, bastante calma, o que me atraia ainda mais por ser tão sutil e diferente do que se espera de um monstro. Monstro que raciocina, calcula, age friamente, como sempre agi… Não me importava com os assassinatos dos companheiros de meu grupo, nem com os dos familiares deles, eu queria apenas o Poder da criatura para mim, queria ser como ela! Vendo que seu Exército também falhava em confrontos contra a criatura, tendo perdido vinte mil soldados em quinze anos, o Governo dos Estados Unidos nos abandonou em 1992, seguido pela CIA; e a Interpol, após perder duzentos e vinte agentes secretos em vinte anos, nos abandonou no ano de 1997. Em onze anos, o massacre foi mais rápido, a criatura parece que resolveu dar-se uma velocidade maior… Em 2008, apenas restavam cem membros, incluindo a mim, e a cúpula do Epoptai na Grécia, os Ezep, vinte e dois Iniciados gregos que eram descendentes diretos do fundador da organização, cujo nome não posso revelar… Nove meses de uma batalha silenciosa e sangrenta pela Grécia… A criatura me deixou vivo, assassinou os demais membros, todos gregos, e suas respectivas famílias… Em 11 de dezembro de 2008, sem dificuldades, ele devorou a todos os Ezep, derrotando seiscentas e vinte e sete Legiões Angélicas Evocadas por eles no Plano Astral, incluindo o líder delas, o Arcanjo Miguel… A criatura me deixou fugir para o Brasil… E eu me escondi aqui no Pantanal… E a criatura está perto agora… Muito perto de mim agora…”

Correr…

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Mais rápido!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não posso parar!

Não…

Não suporto…

Não suporto mais correr…

Não tenho…

Como correr…

Não consigo mais me levantar…

Vou morrer…

Eu vou morrer…

Vou morrer…

Oh, sim, Abraão, você vai morrer!

“E eu termino meus dias assim, pobre, sozinho, sem perspectivas altas de reconstruir a minha vida… O remorso que tenho, o único remorso, é o de não ter conseguido ser como a criatura… Mormarok… Recentemente descobri que ele se chama Mormarok… Meu último ato mágico foi descobrir que ele se chama Mormarok e é imortal, imortal e realmente filho de Eurinome, imortal e mais antigo do que tudo que conhecemos de natural no mundo… Mas, eu queria ser como ele, eu queria… queria… queria… queria saber como é a sensação de devorar a carne apodrecida de um ser humano… Desejei isso… Desejo isso neste meu fim de vida… Desejo tanto quanto queria devorar-te vivo e apodrecido em carne agora, se eu fosse imortal e pudesse surgir aí enquanto você estivesse ao fim da leitura deste relatório! Não, nada mais tem importância, eu sou tão monstro quanto ele ou mais… No entanto, não me arrependo de nada desde o princípio de minha jornada em busca dele! E… Não, agora tenho que correr… Agora tenho que fugir… Mormarok me achou… Tenho que ter mais um pouco de tempo para… Não… Tenho que correr! Tenho que fugir! Tenho que sobreviver! Tenho que tentar so________________________”

Inominável Ser
DEVORANDO-TE



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